Breve História da Salinicultura em Portugal
"O documento mais antigo que se refere ao sal português data do ano 959 e trata da doação de terras e marinhas de sal de Aveiro, feita pela Condessa de Mumadona ao Mosteiro de S. Salvador que fundara em Guimarães. Contudo, há evidências de que a exploração salineira no nosso território é bem mais antiga.
A costa Atlântica da Península Ibérica tem tido
desde há muito, uma excelente reputação pela sua produção de sal. O prato mais famoso na época do Império Romano, o Garum Ibérico, era aqui confeccionado e consistia numa pasta de peixe em azeite com ervas aromáticas e Salgado com sal marinho retirado das salinas da região (Le Foll, 1997).
A existência de “salgadeiros” (tanques de argamassa rija com 3 metros de comprimento e 1,5 m de largura e altura) bem talhados e ainda hoje operacionais, parece demonstrar o avanço das metodologias da exploração do sal na Lusitânia durante a ocupação Romana (Século III) (Ferreira da Silva, 1966). Em 1178, no reinado de D. Afonso Henrique, já se explorava o sal nas margens do Mondego.
Noutras regiões do Norte também, outrora, se produzia sal: em Vila do Conde e Matosinhos, no Século XI; no Porto, no séc. III; em Caminha, no séc. XVIII. Hoje, nenhuma das salinas destas localidades está activa.
No Algarve, perto de Portimão, ainda existem salgadeiros do tempo dos romanos, o que indica que, nessa
altura, já havia produção de sal nessa região. No reinado de D. João I, a quantidade produzida era tal que o governo facilitava a exportação para o estrangeiro, como medida de grande conveniência económica. Em 1532, D. João III ordenou a construção de vinte e oito salinas na região de Tavira, as quais já em 1790 se encontravam completamente arruinadas.
Na Idade Média o sal era um artigo privilegiado, isento de qualquer imposto e de portagens. Não admira que tal acontecesse, pois o sal Português sempre foi considerado até no estrangeiro, de qualidade superior. Portugal foi um país exportador, no reinado de D. Afonso Henriques, Aveiro fornecia sal para todo território nacional e também exportava grandes quantidades. Mais tarde, no reinado de D. João I, foi permitida a exportação de sal do Algarve e de Lisboa.
O Sal Português era então vendido a preços superiores ao do produzido nas minas da Europa Central. A sua importância foi tanta que, graças ao sal das salinas de Setúbal, Portugal pagou à Holanda, de acordo com o Tratado de 1669, 4.000.000 de cruzados pondo assim termo ao conflito entre os dois países e libertando o Brasil da ocupação neerlandesa (Rau V., 1958).
Entre os países que mais sal português consumiram, destaca-se a França, a Holanda, a Dinamarca, a Noruega, o Reino Unido e a Suécia.
Evolução da Salinicultura de modo Tradicional no Algarve
Ao longo do tempo, o sector do sal atravessou várias crises que se deveram a políticas desfavoráveis e a crises económicas internacionais, que provocaram a falência das indústrias conserveiras. Contudo, nos anos 70, assistiu-se ao declínio acentuado da actividade em que muitas das unidades tradicionais deram lugar a aquaculturas e a explorações mecanizadas. Esse declínio deveu-se essencialmente a:
o aumento dos custos de produção, em particular de mão de obra;
as transformações de processos tecnológicos em unidades de indústrias químicas e da pesca, que conduziram a um decréscimo significativo na procure de matéria-prima – sal;
os mecanismos económicos internacionais, consubstanciado nomeadamente na liberalização dos mercados e no desarmamento pautal;
as alterações estruturais na sociedade portuguesa, reflectivas em aproveitamentos alternativos mais compensadores de áreas salineiras e no desenvolvimento de muitas actividades mais atractivas e remuneradoras de mão-de-obra;
a crescente desvalorização do sal, no nosso País, face à concorrência de oferta internacional.
A esta tendência resistiu um pequeno núcleo de produtores, sedeados em Castro Marim (cerca de 8), Tavira e Olhão (2 a 3), que se regiam pela “paixão pelo sal”, pelo apego ao território, por um trabalho feito a ritmo próprio e pela subsistência sem patrão.
Actualmente a área ocupada por salinas tradicionais no Parque Natural da Ria Formosa é de aproximadamente 140 ha, encontrando-se a maioria destas unidades abandonadas. Grande parte das salinas tradicionais foram transformadas em salinas industriais e pisciculturas."
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Olá Áurea,
ResponderEliminarMuito interessante o texto, conheço a salinicultura do Algarve.
Beijo, bom domingo,
Vânia